O que esperar dos nossos planos de saúde quando mais precisamos? Eficiência? Praticidade? Ou bom atendimento? Bom, se me perguntarem, acredito que responderei ser o somatório dos três. Mas infelizmente ainda falta muito para isso acontecer.
O discurso parece radical, mas posso dizer com a experiência de um paciente e impaciência de um acompanhante: em meus últimos oito comparecimentos a hospitais e laboratórios cobertos pelo meu plano só consegui excelência em atendimento em apenas um. É isso mesmo, com o perdão da redundância e das letras garrafais necessariamente eu reforço: apenas UM. Mas entre todos os outros sete declínios de serviços prestados vividos anteriormente, onde também destacam-se mais de duas horas para atender uma criança de colo em uma emergência em Vitória - ES, e deixarem minha noiva esperando mais de meia hora em outra emergência completamente vazia em uma madrugada de segunda feira em Jacarepaguá - Rio de Janeiro, o que mais me deixou perplexo foi a tal história da senha.
Tudo começou quando necessitei executar um raio x do tórax. Dada a evolução dos exames radiológicos nos últimos anos, imaginei que seria tão fácil quanto comprar pão na padaria da esquina, mas a dificuldade e o descaso dos laboratórios especializados foram tão surpreendentes quanto escutar um padeiro gritar: "Gente! Estamos sem pão pois o trigo acabou..." Tive três experiências diferenciadas e desagradáveis em menos de uma semana. Em um laboratório fui informado que os agendamentos estão sendo realizados para três meses consequentes; em outro até tentei buscar alguma informação, mas sequer conseguir entrar pela porta e dar dois passos, tamanha era a quantidade de gente e faces mal humoradas fazendo cadastro; no terceiro liguei para os dois telefones disponíveis na internet. Sequer alguém me atendeu. E foi deste momento em diante que a senha entrou na minha vida.
Em um conceituado e sofisticado laboratório carioca também interligado a uma grande rede de hospitais, consegui algumas orientações; pena que o trigo ainda não havia chegado e meu pãozinho francês ainda viria com dificuldade. O atendente de telemarketing informou: "Senhor o atendimento para raio x não é por agendamento, é por senha. São dezesseis senhas de manhã e outras dezesseis a tarde. O senhor precisa chegar cedo pois elas em muitos casos acabam rápido." Após ouvir aquela recomendação e me projetar para uma fila do SUS, decidi, de forma desesperada, seguir seu conselho, haja vista todo o meu desgaste de experiências anteriores. O que eu não sabia era que meu stresse seria triplicado. Então leiam e entendam amigos, o quanto estamos mal representados por um serviço que lida com o nosso mais precioso bem: nossa saúde.
Decidi comparecer para retirar a tal senha na parte da tarde. Seguindo a informação de que os papéis eram distribuídos a partir do meio dia e meia, cometi o incrível engano de chegar dez minutinhos depois. Vocês já imaginam o que aconteceu não é? Tentei argumentar a necessidade daquele exame, escutei da atendente a
seguinte frase: " O senhor pode sentar e esperar alguma desistência, mas
eu não posso garantir nada." Respirei fundo, mas percebi que nem com meu tórax aberto dificilmente conseguiria alguma compaixão daquela funcionária, que ganha para fazer o que faz. Processos Seletivos... Eficazes... Então no dia seguinte, sacrificando mais uma programação do meu trabalho, resolvi radicalizar! E às dez e cinquenta e sete da manhã, lá estava eu pronto para ser com folga o primeiro da lista. Fui o sétimo... Resultado: vinte reais de estacionamento e mais de quatro horas para conseguir fazer o exame após adquirir a dourada senha da radiologia. Mas a tarde não foi monótona, enquanto aguardava escutava histórias e relatos de outros pacientes revoltados, e acreditem, se eu começar a contá-las, este texto certamente vai virar um livro.
Diante de toda aquela deficiência gerada por um serviço privado, é impossível não imaginar: será que uma pessoas em situação igual a minha mas atendida pelo sistema público consegue a proeza de executar esse exame a tempo de evitar que sua doença alcance patamares ainda mais delicados?
O fato de eu não citar os hospitais e laboratórios onde vivi tanto descaso são pela simples razão de ao escutar depoimentos dos vários pacientes que aguardavam atendimento nesta tarde, cheguei a conclusão que o problema vai além de um plano de saúde ou grupo de saúde privada: é generalizado. E com tudo que passei para conseguir um simples exame de tórax começo a entender o porque tantos amigos e conhecidos seguem uma recorrente e incorreta frase de forma tão veemente: "Hospital eu passo longe! Só procuro quando estou muito doente."
Do jeito que as coisas andam, os atendimentos via planos de saúde estão se nivelando aos da rede pública.
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