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quarta-feira, 10 de julho de 2019

ALÉM DO FUTEBOL, ALÉM DO ESPORTE.

     Neste mês de Julho o mundo assistiu duas grandes finais do futebol. Na França, a Copa do Mundo de Futebol Feminino chegou a patamares de audiência jamais alcançados desde de sua abertura até o encerramento protagonizado pelo duelo entre americanas e holandesas. Já na América do Sul, a competição de seleções masculina do continente foi realizada no Brasil e teve sua final com os anfitriões enfrentando a ascendente equipe peruana.
     Os dois jogos tiveram um ponto em comum: o favoritismo predominante de uma equipe. Brasileiros e norte americanas golearam a opinião popular e especializada por todo o planeta. E havia uma razão para isso. Multicampeões não só dos torneios que estavam em disputa mas de vários campeonatos de mesma ou até mesmo maior competitividade, era fato constatado que a maioria esmagadora das opiniões direcionasse os grandes campeões do futebol feminino e masculino ao favoritismo de levantarem as taças ao final das competições, o que, de fato, aconteceu.
     Mas o que, particularmente, me chamou a atenção não foi a vitória, e sim a diferente postura comportamental dos derrotados. Desde a configuração tática até os gestos emocionais, as reações estavam bastante opostas. Holandesas nervosas, errando passes e num misto de abatimento, decepção mas conformidade ao final do jogo. Peruanos arrojados, com marcação alta em campo e a sensação de uma guerra civil perdida após o término da partida. Isso causa uma reflexão bastante importante: é fato que a aceitação da derrota não tem a obrigação de ser igual para todos. Mas o que gera reações tão opostas para o mesmo sentimento?
     Aderindo ao bom e velho cavalheirismo, vamos começar falando da jovem seleção holandesa. E acredito já termos "matado a charada" na frase acima ao falarmos de juventude. A média de idade da laranja mecânica feminina é menor do que 26 anos, fato que o psicólogo e especialista em recursos humanos Abdijam Pinheiro entende ter sido um diferencial para a conflito emocional da equipe européia ao final da partida: "A juventude atual sofre com crises de ansiedade, depressão, frustração... E ter as expectativas não atendidas é uma das razões que geram esses problemas. É uma geração anos noventa ou até mesmo anos dois mil, onde a sensação da derrota é mais sentida em virtude de uma cobrança indireta de resultado, exigido de forma muito agressiva". Explicou. Questionado sobre a reação das holandesas caso a mesma final tivesse acontecido há vinte anos, Abdijam respondeu não haver tanta diferença comportamental assim: "Nos anos noventa seria basicamente a mesma coisa sim. Principalmente pela pouca idade das meninas da holanda".



O abraço pós derrota das holandesas. Um misto de decepção com sensação de 
orgulho pela colaboração de um novo legado iniciado na Copa do Mundo de 2019. 
(imagem: goal.com)




Mas o psicólogo acredita que existe uma razão fundamental no que se relaciona a superação do resultado. 
O profissional que também atua em recrutamento e seleção e tem como função analisar o perfil comportamental e psicológico das pessoas diariamente, acredita que o pensamento consolador da equipe holandesa, vem da consciência de uma continuidade por ter colaborado na reconstrução de um futebol feminino forte, como nunca visto:

"As holandesas estão conscientes de um legado. Que o futebol feminino foi disseminado. E elas estão felizes também por fazerem parte disso". Frustrações de uma juventude contrastadas com relação de orgulho pela consciência de um bom trabalho realizado. talvez um misto de sensações que tenha ilustrado bastante os nervosismos, lágrimas e agradecimentos das meninas da Holanda ainda em campo, após a final do campeonato mundial.
      Nervosismo e lágrimas que também acompanharam a derrota peruana para o Brasil na final da Copa América. Mas, neste caso, os peruanos estavam mais "pilhados". Uma postura de quem lutava por algo a mais do que futebol. O publicitário Roberto Périssé opinou sobre o que acredita ser a razão de uma postura tão diferente entre as meninas da holanda e os jogadores do Peru: "O latino é mais emotivo do que o holandês. Condição social e histórico de vida, influenciam muito para isso". Opinou. Périssé vai além, e diz que um povo socialmente subdesenvolvido tende a sentir mais uma derrota pessoal ou profissional: "A pessoa já tem menos do que deveria ter. Uma perda para ela é muito mais sentida do que para os outros". Disse o experiente profissional com vasta experiência na área de comunicação social.
     Para Roberto Périssé, o vice campeonato do Peru não foi mais sentido apenas em virtude de uma frustração em não entregar uma alegria a uma população que já sofre com um cotidiano de desigualdade social, mas também diante de um histórico de vida dos próprios jogadores: "Muitos deles vieram de famílias pobres, e tem também dentro de si um pouco dessa sensação". Reforçou Perissé.


Paolo Guerrero, maior artilheiro da história do futebol peruano, inconformado
com o primeiro gol do Brasil na final da Copa América.
(fonte: lance.com.br)



     A realidade é que um simples dado ilustra bastante as diferentes sensações de derrota no contexto social dos países. Enquanto a economia da Holanda tem apenas 6% da sua população abaixo da linha da pobreza, os peruanos estão com um número 300% maior do que o país europeu com 25% de pessoas vivendo em condições de necessidades extremas. Estatísticas que fazem parte da conjuntura social de toda uma nação, e que certamente invadem a mente de qualquer atleta que representa seu país, na ideia de entregar alegria a uma população que diariamente sofre com tantos problemas.
     O fato é que muitas partidas de futebol começam e terminam além das quatro linhas de um gramado, e os efeitos da vitória ou da derrota são totalmente interligados à condição psicológica de uma pessoa. Não importa se pela faixa etária ou pela vida social que ela ocupa ou ocupou. É o esporte mostrando que, mais do que competir, é preciso entender porque as lágrimas da derrota geralmente são mais sentidas do que a emoção e o largo sorriso de um triunfo


fontes de informação:
https://www.suapesquisa.com/paises/peru/economia_peru.htm
https://www.suapesquisa.com/paises/holanda/economia_holanda.htm